sociedade

O exílio da periferia

O assunto que tem mobilizado os veículos locais de comunicação nos últimos dias diz respeito ao reajuste da tarifa do transporte público em Santa Maria. O poder público esforça-se para fazer parecer que não se trata de uma questão política, mas sim de uma questão técnica; que o cálculo que resulta no valor da passagem atende a critérios eminentemente contábeis. 

O site que demonstra como o cálculo da passagem é feito denomina-se Transporte Transparente e lá parece estar tudo certo, perfeitamente explicado e discriminado. Onde está então o problema? Justamente em fazer o cálculo! Não pode haver esse cálculo. O transporte público não pode ser regido pela lógica de um serviço privado. Seu fim último é a população. Transporte público não é mercadoria, e a finalidade, portanto, não pode ser a lógica do mercado, o lucro; mas sim transportar pessoas com dignidade. Por mais que o cálculo esteja correto do ponto de vista contábil, sua lógica numérica não cabe para esse fim!


Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)

Em meio a essa discussão, no último dia 13 de maio, celebrou-se a data daquilo que Martinho da Vila chamou de Sublime Pergaminho, o documento formal do fim oficial da escravatura no Brasil. Apesar de serem assuntos aparentemente diversos, olhando-se mais de perto, são extremamente conexos. Há 130 anos acreditamos que por força de uma lei tenhamos rompido a barreira do exílio e da segregação. Não rompemos! E a prova disso é a forma como tratamos, desde lá, dos direitos sociais da população mais pobre, e o transporte público, é um exemplo.

Como lembra o geógrafo Milton Santos, queremos ser cidadãos e não consumidores, sermos os sujeitos da história, uma história escrita por pessoas, reais, de carne e osso e não por cálculos transparentes, translúcidos. Não somos números, somos gente! A qualidade dos serviços públicos, como o transporte público, acessível e de qualidade, é que assinará a verdadeira carta de alforria dos brasileiros, em especial dos moradores pobres, trabalhadores e estudantes, que vivem hoje a realidade da segregação e do exílio na periferia.

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